sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sobre o nome


Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.

Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

                                                                                                        Graciliano Ramos



Esse é um texto de que gosto muito e, por isso, tirei dele o nome do blog. Escrever dá trabalho, exige disposição e técnica. Assim como é o trabalho das lavadeiras de Graciliano. E num mundo onde tudo é tão rápido, tão urgente, a prática escrita acaba se tornando chata para alguns, justamente pela exigência de concentração, de calma, de disponibilidade para a prática. 

Sempre digo aos meus alunos que as pessoas se preocupam muito, por exemplo, com a vestimenta que vão usar em determinadas situações, mas esquecem-se de que uma boa comunicação é o melhor cartão de visitas que se pode ter.

E é aí que temos um paradoxo. A sociedade que estimula a falta de concentração, o superficial, o recorta e cola é a mesma que privilegia aqueles que dominam a boa palavra - escrita e falada. É a mesma sociedade que, de maneira agressiva, exclui os que não têm uma boa comunicação. Prova disso são as propostas de redação nos concursos públicos, vestibulares e até mesmo os textos exigidos nos processos seletivos para empresas privadas. Os avaliadores querem checar a qualidade comunicativa do candidato. E esse tipo de avaliação acaba constituindo um filtro enorme, por onde só os bem preparados passam.

Quem não investe em uma boa comunicação oral usa a palavra, mas não diz. Quem não investe na escrita usa a palavra, mas não diz. E, se a palavra foi feita para dizer, conforme afirma Graciliano Ramos, infelizmente, alguns ficam calados. E ficar calado é mais do que não abrir a boca... é abrir a boca e não ser ouvido, porque não se sabe como dizer.

3 comentários:

  1. Que banho de ensinamento, amiga!

    Nesse redemoínho entre palavras,dizeres,ouvir-se e calar-se vai se formando uma Turma de Brasileiros incompetentes para gerir um Brasil livre, digno, respeitável,salvo poucas exceções que já ultrapassaram a maioridade, portanto mais no patamar daqueles que se calam por descrença.

    beijos, Maria Marçal - Porto Alegre - RS

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  2. Muito bom, Maria!! Adorei!

    Beijo!

    Lygia

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